
CAMILA ELIS
1995, Dois Irmãos/RS.
Natural de Dois Irmãos/RS, 1995, Elis é mestre em Artes Visuais pela ECA/USP(2022). Bacharel em Artes Visuais pela UFRGS (2018). Estudou pintura na University of the Arts London. (2017). Em 2023 realizou residência artística na @fundacaoibere , em Porto Alegre. Vive e mantém atelier entre Porto Alegre e São Paulo.
Em Camila o processo não inclui decisões tão radicais como a supressão de passagens, de motivos, o silenciamento: há as veladuras, tema de sua dissertação de
mestrado na ECAUSP; a aplicação de camadas tênues, transparentes, cada uma modificando a camada anterior, afundando-a para extratos mais e mais subterrâneos, esbatendo-a, empalidecendo-a, tornando-a quase um rumor, ainda assim, visível. Uma estratégia cara a artista, que prefere a rapidez, optou, lutou por ela, ajustou seu trabalho
ao mesmo prazo exíguo, como se a produção de uma tela viesse pronta e acabada como uma pedra aparada no ar ou, como ela escreve a propósito do trabalho artístico,
como “uma luz a procura de uma superfície”. Aliás, a artista escreve e bem. A julgar pela qualidade de seu texto, sua passagem pela academia não a afetou, tampouco sua
fina capacidade de efetuar as associações que impulsionam seu trabalho. São muitas e variadas. Como conta em seu texto de apresentação -Argumento- a essa mostra, um dos pontos de partida foi o encontro com o Morte em Veneza, de Thomas Mann, uma edição antiga e nunca lida, mas que durante anos ela, em virtude da sua capa azul clara,
conservou no alto de uma cômoda porque caía bem em companhia de um conjunto de objetos, uma dessas coleções organizadas a partir de encontros fortuitos que,
desconfiamos, devem significar alguma coisa embora não saibamos ao certo o que. Vencendo a inercia do azul claro que a mantinha na atmosfera, a artista, agora em sua casa nova, abriu o livro e finalmente começou a lê-lo, sendo arrebatada pelo primeiro parágrafo do capítulo quatro, a descrição da passagem de um dia, um único dia, do sol
a pino à noite espessa e fria. Amante das coisas e das palavras, a artista saiu do texto e dirigiu-se à pintura. Empenhou-se em traduzir. Traduzir? Segundo o poeta Octavio Paz,
coisas e palavras sangram pela mesma ferida. Sob esse ponto de vista seria a pintura a expressão desse sangramento? O fechamento do leque de um dia encontraria seu símile
na pintura realizada numa única sessão?
Exposição "Via Láctea". Curadoria Agnaldo Farias
Exposição "Da Alma e as coisas suspensas" - curadoria Bruna Fetter
Exposição "Fulgor na noite" - curadoria Mário Gioia






















